Lembranças,
Histórias e Memórias Escolares
A revivificação das lembranças enquanto
criança são relevantes, porque me trazem alento e vitalidade para suportar a
rigidez da vida adulta, pois recordar
a infância me permite reviver sentimentos antes imersos. Assim, a partir desse
singelo memorial, descreverei minha trajetória escolar durante a infância e adolescência.
Por termos uma memória seletiva, os episódios
não serão relatados fidedignamente, porém, os estigmas relevantes serão
detalhadamente expostos agora. Minha história escolar começou quando tinha quatro
anos na instituição Centros Sociais urbanos (CSU) no município de Jaguaquara-
Ba. A escola era pequena e continha apenas algumas salas para promover o ensino
e a aprendizagem, o uniforme era uma blusa xadrez nas cores vermelha e branco,
e uma bermuda vermelha. A sala era grande, e continha mesas pequenas, e em
todas tinham quatros cadeiras, éramos entre dez e quinze crianças.
Nesse
primeiro estágio que compõe minha vida escolar, de lance foi mais diversão que
obrigação, lógico que tínhamos que executar alguns exercícios, estes eram
baseados no método de memorização, através de repetições. As atividades eram
fotocopiadas no mimeógrafo, e eram mais direcionadas para produções artísticas
que para a proficiência da escrita, logo, a segunda era trabalhada de forma
singular.
Ao
ingressar na escola Centro Educacional do Trabalhador (CET), onde cursei a
primeira série, o ensino era mais árduo e as avaliações eram incessantes. A
professora Letícia, utilizava o método silábico, no qual, organiza-se da parte
para o todo, com leituras mecânicas e decifração das palavras. O ensino era centralizado no professor, o
qual detinha todo o conhecimento, e com isso, os alunos eram apenas receptores
passivos desse modelo tradicional. Essa concepção de aprendizagem opõe-se aos
princípios defendidos por Freire (1996) que, acredita que o ato de ensinar vai
muito além de transmitir conhecimento; o professor deve apresentar a seus
alunos a possibilidade para a construção e a produção de seu próprio saber.
Assim sendo, as histórias que eu trazia
da minha casa, dos meus amigos de rua, da comunidade em que eu vivia não eram
relevantes para serem discutidas naquele ambiente escolar. As tarefas passadas
para serem realizadas em casa não tinham sentido, eram um amontoado de
exercícios que precisavam ser decorados, copiados e que não tinham significado
algum na minha vida diária. Iniciava-se
então um processo de ruptura. O momento de aprender a ler e escrever que até
então era mágico e muitíssimo desejado e esperado por mim, tornou-se algo
difícil e maçante, não entendia por que estava aprendendo palavras que não
faziam sentido no meu cotidiano. Assim começava a minha formação escolar, com
pequenas variações, base fragmentada e frágil para sustentar uma identidade proficiente
na escrita, na leitura e na interpretação textual.
Quando sucedi à segunda
série, fui transferida de escola, pois a anterior, disponibilizava apenas até a
primeira seriação. Ao chegar à Escola Menandro Minahim, fiquei atônita tanto
pela dimensão estrutural quanto pela ansiedade em está num ambiente ainda
inexplorado, porém a curiosidade era maior. A professora era exigente e
autoritária, qualquer ruído, a criança era impedida de participar do intervalo
e ficava em sala fazendo as atividades elaboradas por ela. A relação para
conosco não era muito afetiva, dado que, por ser inflexível, não tínhamos oportunidade
de participar das aulas, com sua “pedagogia da transmissão”, não aceitava que
fizéssemos indagações ou que a corrigíssemos, com isso, adquirir empecilhos que
me prejudicaram bastante durante o percurso educacional, porque quando tinha
dúvidas sobre determinado assunto, ficava com receio de ser repreendida e
recuava. Convivi com ela até o término da quarta série.
Por conseguinte, ingressei
num outro colégio, Colégio Estadual Pio XII, onde cursei da quinta série até o
terceiro ano do ensino médio, era mais equipada, com uma boa estrutura e um
amplo quadro de professores. Nessa fase, não tive muita afinidade para com os
professores, apenas conversava o básico, para esclarecer certas dubiedades. No
colégio, havia vários eventos educacionais, como feira de ciências, torneios
esportivos e exposições de palestras, aos quais participava com muito
entusiasmo, pois por ser bastante curiosa, a vontade de adquirir mais conhecimento
sempre me impulsionou. As arduidades foram muitas, mas o desejo de aprender e
de auferir saberes sempre foi maior que meu desânimo em fracassar. Assim sendo,
concluir o ensino médio, e apesar dos inúmeros percalços, várias incertezas, tudo
aquilo que estimei com fervor e júbilo foram concretizados.
Retomando o processo de rememorar,
percebo que as disciplinas não tinham como objetivo central trabalhar com
produção e interpretação de textos e suas aplicações pedagógicas, não havia
nenhuma preocupação em saber ler e escrever para o outro e com o outro de
maneira eficiente. Não era prioridade tampouco desenvolver e aprimorar a
escrita como um processo de sistematização do saber elaborado. Apesar do muito já conseguido, as
deficiências do sistema educacional constituem certamente um entrave para a
modernização da sociedade, porém,
a crítica implacável que vem sendo feita ao nosso sistema educacional, não nos
impedi de reconhecer o muito já feito, e que como conseqüência dessa base o
sistema pode e deve ser melhorado.
Excelente narrativa sobre sua itinerância de vida e de formação. Você conseguiu articular sua história com os referencias teóricos das disciplinas. Traga imagens que ilustrem seu texto e a lista dos blogs.
ResponderExcluirMorro de orgulho de você e me sinto honrada por poder acompanhar seu processo de formação de perto. Você vai longe .
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